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23/08/2006 » Todas as notícias
EUA: Tudo por petróleo. Agora pela água

EUA: Tudo por petróleo. Agora pela água

Zanini H.

Sob pressão dos EUA, os governos brasileiro, paraguaio e argentino estão sendo obrigados a manter um controle maior na região da Tripla Fronteira. O argumento da Casa Branca, a qual afirma taxativamente – como afirmou que o Iraque tinha armas de destruição em massa - é que existem ali "células terroristas".

Para Washington, nas cidades da região, notadamente em Foz do Iguaçu e em Ciudad del Este, agentes do “terrorismo islâmico” atuariam na lavagem do dinheiro. Essa atividade teria por objetivo financiar as atividades da Al Qaeda, organização supostamente responsável pelos atentados de 11 de Setembro, segundo a propaganda governamental estadunidense.

Embora governos de países que se dizem soberanos, como a Argentina, o Paraguai e o Brasil, não devessem aceitar sob nenhuma hipótese ingerências desse tipo, estamos todos sob forte observação e pressão. E pior: gastando reservas para financiar programas policiais na região para investigar os supostos "terroristas".

Quando deseja algo, o governo estadunidense, notadamente o de Bush, não mede esforços, nem bombas, nem mentiras e muito menos costumam economizar no número de mortos. Talvez seja chegada a hora de preocupar-nos também. Os exemplos do Vietnã, de Kosovo, do Afeganistão, Panamá, Granada, Guatemala, Cuba, Iraque já são suficientes para que tenhamos um pouco mais de atenção. E não só com norte-americanos, mas também com aqueles que de dentro de nossos países, divulgam e apóiam o que são somente suspeitas e acusações mal formuladas.

A teoria – jamais comprovada – da existência de células terroristas em nossos territórios, por mais esdrúxula que seja, vem ganhando um espaço cada vez maior na mídia. No Brasil, principalmente, a grande mídia comprou a idéia. O assunto promete tornar-se uma histeria.

Um oceano subterrâneo

Segundo o Centro de Militares para a Democracia (Cemida), da Argentina, o verdadeiro objetivo dos norte-americanos seria o controle completo do Sistema Aqüífero Guarani (SAG). O SAG é um imenso reservatório de água doce e potável que tem na região seu maior ponto de recarga. A declaração é do presidente do Cemida, coronel Horacio Ballester.

Com uma capacidade de exploração de 40 a 80 quilômetros cúbicos anuais, o SAG, é um imenso reservatório subterrâneo de água limpa e ocupa uma área que vai desde o pantanal brasileiro e áreas do Paraguai ao Uruguai e se entende até os pampas argentinos. Uma riqueza incalculável exposta às garras armadas dos Estados Unidos.

É importante lembrar – e acentuar – que a região da Tripla Fronteira está muito próxima do centro geográfico do continente sul-americano e ocupa, principalmente, o território das duas maiores economias da região. A potencialidade para a geração de energia elétrica é incalculável.

Sabemos que a Amazônia é também um dos objetivos norte-americanos para esse século por sua biodiversidade, pelas riquezas encontradas em seu subsolo e por sua localização estratégica. E pelas reservas de água doce.

Os integrantes do Centro de Militares pela Democracia temem o risco de uma ocupação militar norte-americana da região. Para embasar o temor, os militares do Cemida lembram que “os EUA puseram o Banco Mundial e a Organização dos Estados Americanos (OEA) na coordenação do projeto que visa detectar a magnitude dos recursos econômicos e naturais da região, assegurar seu uso de maneira sustentável, evitar a contaminação e manter um controle até quando seja conveniente. O orçamento do projeto é de 26,8 milhões de dólares anuais”.

O que vem depois do assalto ao petróleo iraquiano?

O SAG já era estudado por cientistas dos três países. Em 1997, os quatro governos dos países do Mercosul aceitaram um projeto do Global Enviroment Facility (Proteção do Meio Ambiente Global, GEF em inglês), sob gerência da OEA e do Banco Mundial.

Esse projeto conta com o apoio financeiro da Vigilância Geológica Germana (BGR) e dos programas da "Águas da Holanda" (Bnwpp). Ballester procura agora entender quais seriam os interesses de estadunidenses, alemães e holandeses no aqüífero.

O geólogo brasileiro Luis Amore, secretário geral do projeto responde, sem muita convicção: "As universidades de nossos países não têm o apoio financeiro necessário para as investigações", em entrevista dada à revista “Zona” de Montevidéu, a cidade sede do “Projeto para a proteção ambiental e para o desenvolvimento sustentável do Sistema aqüífero Guarani".

Para Ismael Serageldn, ex-diretor da Sociedade Mundial da Água – uma aliança de corporações internacionais dedicadas a esse assunto e a promover indiscriminadamente a privatização dos serviços públicos relacionados com a distribuição de água, "os EUA têm, comprovadamente, como objetivo conquistar reservas de água doce em nosso subcontinente". Para ele, “as guerras do século XXI serão pelo controle desse recurso em escassez".

Segundo a ONU (ou do que resta dela e de sua microscópica credibilidade depois da vergonhosa atuação durante a Guerra no Iraque), até 2025 a demanda pela água potável será até 56% maior que a oferta. Quem tiver esses recursos, será um alvo de um saqueio.

Dentre todas as possibilidades abertas, a que mais preocupa – e a mais provável pelo que temos visto das práticas de assalto às riqueza alheias promovidas pelos EUA – seria a simples tomada de territórios por forças militares vindas do Império. Outra possibilidade, menos alarmante pela violência, mas insuportável pelo desrespeito, seria através da simples compra de terras e regiões inteiras pelo capital norte-americano. E dos programas de privatização.

O escritor norte-americano Norman Mailer levantou uma questão importante no mês passado: “A administração de George W. Bush não foi ao Iraque somente pelo petróleo Mas também pelas águas do Tigre e do Eufrates, dois rios caudalosos em uma das regiões mais áridas do planeta".

Os programas de privatização vêem também ajudando aos objetivos dos Estados Unidos. Os chamados 'Barões da Água" (megacorporações multinacionais do negócio da água) passaram a controlar muitas das reservas mundiais nos últimos 10 anos. Teme-se que em poucos anos, formarão um monopólio mundial capaz de controlar os recursos hídricos a nível mundial. Para os Barões, não só a distribuição geraria lucros incalculáveis. Há também o negócio de purificação, da dessalinização, sistemas de distribuição e encanamentos, irrigação, represas, e a mais lucrativa de todas: a distribuição de água engarrafada. Segundo especialistas, os lucros obtidos com esse negócio já superam os obtidos pela indústria farmacêutica.

E a soberania?

De qualquer forma, podemos entender que nossos países correm riscos sérios a médio e longo prazo. Para muitos, as pressões dos EUA são inaceitáveis. As falácias e trapaças utilizadas para justificar o massacre e o assalto ao petróleo iraquiano deveriam servir de exemplo e como mostra do caráter delinqüente das práticas estadunidenses.

As provas obtidas até agora não indicam a existência de grupos terroristas na região da Tripla Fronteira. As provas são débeis. Tudo o que se provou - fato de conhecimento público há anos - é que na região atuam pessoas dedicadas à lavagem de dinheiro. Aliás, como em qualquer outro lugar de nossos países.

Se nossos países se submeterem às pressões dos EUA, estaremos mais uma vez diante de um atentado à nossa soberania e aos brasileiros, argentinos e paraguaios - de origem árabe ou não - que vivem e trabalham na região da Tripla Fronteira e que estão submetidos à uma criminosa observação de um país estrangeiro, internacionalmente conhecido por suas práticas condenáveis.

Enviada por Zanini H.
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