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23/08/2006 » Todas as notícias
Mão-de-obra infantil

Mão-de-obra infantil

Nas carvoarias de Bituruna nossos repórteres encontraram um menino de seis anos que trabalha como gente grande. É um brasileirinho que cresce em meio a fumaça e ao calor. Ele foi levado pela própria mãe, que também trabalha lá. As mãos pequenas quase não conseguem carregar o barro. O caçula de seis irmãos é o único que ficou com mãe. Os outros foram procurar uma vida melhor na cidade. Com seis anos, ele já poderia ir à escola, mas passa o dia tapando buracos dos fornos de carvão. Mãe: - passe aqui. Menino: - eu não consigo. Mãe: - não consegue? Por que não aprendeu a crescer mais um pouco? Foi assim que Maria Madalena criou os filhos. Sem a ajuda do marido, o trabalho sempre ficou para os meninos. "É um serviço muito grosseiro, pior do que na roça. Mas a fumaça não faz mal. Não faz mal. Por causa que criei os outros. Um está com 23 anos. Outro está com quase 20 anos, o mais novo. Criei nesse serviço aí", disse. No barraco de lona, o fogão à lenha ajuda a esquentar. Em Bituruna, a venda de carvão é a principal fonte de renda para quase 700 famílias assentadas. O resultado é a destruição da mata e o trabalho de crianças e adolescentes que enfrentam a alta temperatura e a fumaça dos fornos. "Essas famílias que estão nos assentamentos hoje receberam além dos lotes, recurso para se estruturar para produção agrícola. Com as frustrações, a maioria das famílias acabou desviando a atividade da agricultura para a produção de carvão vegetal", disse Marcos Lucatelli, técnico da Emater. Enquanto cortam a lenha, Luciano carrega o trator, o menino de 13 anos divide o tempo entre escola e trabalho. A família não tem condições de contratar funcionários: ele ajuda, chega a ficar até 10 horas trabalhando. Dirigir o trator é uma de suas tarefas. "No fim do dia eu estou cansado. Bastante cansado. Com os braços tudo doído", disse o garoto. Fernando tem 15 anos e responsabilidade de adulto. O dinheiro que o pai ganha, menos de R$ 100 por mês, não é suficiente para sustentar a casa. E foi nesse trabalho que ele encontrou uma saída para ajudar a família. "Bem sofrido, por causa da fumaça. Tem que levantar cedo, de noite, para cuidar o forno, se não é perigoso cair, né?", contou. O Incra do Paraná, que assentou as famílias, disse que não conhecia denúncias de trabalho infantil em Bituruna. Mas afirmou não compete ao órgão fiscalizar crianças e adolescentes nos assentamentos. O núcleo de combate ao trabalho infantil do Ministério Público no Paraná disse que vai apurar a situação nos sete assentamentos em que as crianças trabalham nos fornos das carvoarias.

Enviada por Patricia Oliveira
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